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  • Foto do escritorMoacy A. Pina

LOGO PELA MANHÃ


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5 horas da manhã. Tudo parece calmo, pouco ruído, é indescritível. É logo pela manhã que tudo parece perfeito. O ar puro, a Natureza no seu esplendor, o verde que começa a caracterizar este meu Cabo Verde. Uma vez por ano, se não poder fazer uma vez por mês, faça tudo de forma diferente. Tipo correr de traz para frente, elogiar os políticos ou sair da sua zona de conforto. A sensação é única. Foi o que fiz hoje (08.09.17).

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Percorri a minha cidade Praia Maria, logo pela manhã, enquanto a maioria da população residente na capital do país dormia as últimas horas de sono. Na terra havia algumas lâmpadas acesas, até porque não há muitas que funcionem. O céu estava praticamente vazio, contava-se as estrelas, vigiadas de longe pela estrela maior, a LUA. Ao lado do LUAR, do famoso HOTEL LUAR, na rotunda Terra Branca, passa um carro, depois duas pessoas apressam os passos e seguem as suas respetivas viagens. Enquanto isso, esperava eu por uma companheira de jornada, que subitamente deu ar da sua graça.

Sorridentes, lá fomos nós descendo a passos largos em direção ao Homem de Pedra, em Chã-de-areia. Paramos numa passagem para peões, à espera que um condutor de um hiace nos desse passagem, nada disto, nem pela manhã respeita-se os sinais de trânsito. Como o melhor sempre está por vir, surpreendentemente, uma viatura pesada, daqueles que distribuem água pela capital quando o serviço não é feito conforme é suposto pela AdS/Electra, para e nos dá preferência de passagem. Bom dia para si, Sr.

Já no outro lado da via destinada aos peões, seguimos rumo à nossa primeira meta. Passamos pela Avenida Cidade Lisboa, contornamos o Mercado de Sucupira pela direita, subimos as famosas escadas que dão acesso ao Plateau, e finalmente, chegamos! Volvidos alguns minutos, enquanto eu esticava os músculos e a minha companheira de jornada repousava, aparece-nos um Sr., cumprimenta-nos, ao qual retribuímos, abre o espaço, uma espécie de ginásio eclético. De seguida, convida-nos a entrar, acrescentando que o resto do pessoal não tarda a chegar. Lá dentro, apreciava eu o que de diferente lá existia. De facto, tem de tudo um pouco, é convidativo e recomenda-se. Fica no prédio do antigo Cartório, em Ponta Belém.

Despedi-me do pessoal, saí sem saber qual seria o meu roteiro, sozinho doravante pela manhã, pela minha cidade. Sem planos nem panos ao colo, subi as restantes escadas à minha frente, cheguei ao Plateau, passei por dois guardas, que preparavam para trocar de turno de serviço. Mais à frente, em frente ao Mercado local, disse a mim mesmo, baixinho, aqui está a base da sociedade. Por outras palavras, as mulheres, contava-se alguns homens de volante e outros tantos que levantam logo pela manha à procura do pão para o filho. Naquele pequeno, histórico e ora remodelado espaço, vi as verdadeiras guerreiras. Vi gente que sustenta o filho, o marido e a família inteira. São essas mulheres que alimentam o povo, aquele (povo) que nem ovo sabe fazer, aquele povo que gosta de comer polvo e lagosta, aquele povo que adora ser servido na hora certa pela nora, pela sogra ou pela empregada que aufere um salário medíocre.

Passei do Ministério das Finanças, cruzei-me com outras pessoas que levantam logo pela manhã, desci o Plateau, já perfilado em direção à Cavibel, um outdoor desta exibe a proeza: Iº Record de Cabo Verde, fazendo referência à maior cachupa do Mundo. Parabéns Cavibel, parabéns Hernídia Tavares. Well done!

Fiz uma pequena pausa, estiquei os músculos em cima da ponte que divide Lém Ferreira de Paiol, indeciso, lá veio-me à mente que hoje seria o dia em que faria algo diferente. Contornei a rotunda, passei em frente à escola Tecto Zero, cheguei à Enacol sita em Fazenda, fiz todo o percurso pela parte traseira desta zona, sempre espreitando a encosta de Paiol. Estava eu em desconforto, pelo simples facto de ter saído da minha cama logo pela manhã e sobretudo por ter saído da minha zona de conforto. É isso o que realmente importa, desafiar a nós próprios, diariamente, por tudo e talvez sem motivo algum. Os resultados chegarão a seu tempo. A cada rotunda, a vontade de entrar por uma zona mais conhecida era imensa, mas lá fui eu dizendo a mim mesmo, não, faça algo diferente, nem, que seja uma vez por ano. Assim sendo, pela primeira vez, sempre com fé em meu Deus, passei em Vila Nova, a pé, logo pela manhã, a correr, mas não de thugs. Felizmente nunca fui assaltado, nem sofri um “Cash or body”, por aqui “cassubody”. A estrada está ótima Óscar Santos, apenas o cheiro nauseabundo que saia dos buracos de respiração das valas incomodava-me. Uma espécie de chulé das valas. Que venha mais chuvas!!!

Depois de um até já Vila Nova, saudei Safende, desejei de longe um bom dia às gentes de Ponta D´água e à minha frente, o vale, toda ela tomada de plantas, que é como quem diz, toda aquela construção (de casas) feita de forma espontânea e muitas vezes à noite e aos fins-de-semana. É impressionante a força do povo, das gentes que são base da sociedade. Não têm tempo a perder. Quando as autoridades e os seus técnicos não agem oportunamente, estas gentes agem assim, sem planeamento, sem financiamento completo, sem tempo de acabamento fixo e sem sono, pois as autoridades, muitas vezes chegam para destruir o que não construíram, por prepotência, má-fé, falta de humildade e empatia, e sobretudo porque são incompetentes e inconsequentes. Entendo que estas construções têm riscos, assim como as demais também o têm. Que Deus vos tenha minha gente! Até mais …

Até aqui, as pernas estão firmes. Os olhos, estes não descansaram de apreciar a minha cidade, com os seus feitos e defeitos, logo pela manhã. Para além de Deus, estiveram comigo, ao longo da jornada, a United T+ e a CV Móvel. Estão em todas as casas praticamente, andam sempre juntas, como se fossem dois agentes de segurança. Já imaginou se assim fossem, seriamos a cidade mais segura do mundo. Outro record para nós. Abra os olhos Hernídia Tavares. No coração de Calabaceira, no polivalente local, alguns rapazes jogavam a bola. Que vontade! Que vontade de sentar na Praça da Ribeira. Parece legal e convidativo, não fosse alguns pneus jogados mesmo ao lado, um ninho propício aos mosquitos, quanto mais nesta época de chuvas. Que Deus nos tenha e que as medidas necessárias sejam tomadas. A primeira é fazer uma limpeza do local e não jogar mais pneus ali. Simples assim! Enquanto isso, do meu lado esquerdo, os hiaces vindos do interior passavam com mais frequência. Trazia certamente muitas gentes que levantam logo pela manhã à procura do pão para a família, é sempre assim.

O dia chegava finalmente. Passei por Fazenda novamente, agora na via principal, depois sucupira, do outro lado o Bairro Craveiro Lopes, sempre juntinhos. Avenida Cidade Lisboa, Várzea, Estádio da Várzea, Ginásio Municipal e lá estavam os meus amigos de sempre. Dei-lhes um olá e disse-lhes que no final do mês estarei de volta. São apenas 30 dias a fazer coisas diferentes. A correr, a conhecer espaços e locais novos, a escrever, a ver, rever e ver novamente, a refletir e ser este SER que não gosta de padrões, de regras e de rotinas. Vou sair por aí à procura de histórias, de gentes com estórias por contar e viver a vida ao sabor do tempo e da Natureza, logo pela manhã.

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Obrigado, Moacy A. Pina (08.09.17)

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