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  • Foto do escritorMoacy A. Pina

Saiu gente correndo até pelas janelas


Missão Especial …

No dia da sua chegada, houve um tiroteio num cabaré. Um portador veio trazer a notícia:

- Mataram 14, e ainda balearam o subdelegado.

Imagine-se o pânico da notícia, no primeiro momento.


O subdelegado era um homem enérgico, escolhido a dedo. Uma semana depois, saía de lá corrido, montado numa égua. Foi nomeado outro. No dia da sua chegada, houve um tiroteio num cabaré. Um portador veio trazer a notícia:

- Mataram 14, e ainda balearam o subdelegado.

Imagine-se o pânico da notícia, no primeiro momento. Por fim, o homem esclareceu: 14 não era o número de mortos, mas o apelido de um mascate, que morrera baleado no tiroteio. Nunca um número deu margem a tanta confusão. Mas na confusão, entre o susto e o esclarecimento, a verdade é que o número não me causou espanto, pois não seria excessivo para o de mortos num tiroteio em Piranhas. O subdelegado retornou à sede, para cuidar do ferimento – uma bala na coxa. Não voltou ao seu posto. Foi então nomeado outro. Seguiu para lá o homem, e a primeira notícia que nos mandou foi para pedir que lhe enviássemos substituto. Dizia na carta: “Por favor, arranjem outro. Não fico aqui nem mais uma semana. Tenho mulher e filhos. Eles precisam de mim. Se eu morrer, quem vai dar comida a eles?” Foi quando pensei em Ataualpa, para ocupar o cargo. Maldita hora! Agi levianamente, pois nem sequer o conhecia, embora soubesse, por informações, que espécie de homem ele era. Afinal de contas, queríamos implantar lá a ordem. Falei-lhe longamente de Ataualpa:

- É homem de muita coragem, segundo estou informado. Atira muito bem, com as duas mãos. Foi delegado na Estiva, e botou aquilo lá em ordem. Uma vez, segundo me disseram, um camarada lá cismou de não tirar o chapéu numa procissão. Quando (…) e o tal camarada ia passando pela praça, Ataualpa arrancou com um tiro o chapéu dele.

(…) quando chegou à casa do baile, foi gritando da porta: “Vamos parar com essa harmónica, que tem doente na vizinhança.” O pessoal do baile não entendeu. Afinal de contas, o próprio Ataualpa dera ordem para fazerem o baile. Por isso, o pessoal protestou. Todo mundo já estava meio bêbedo, e começou logo aquele vozeiro de gente inconformada. Enquanto isso, o tocador de harmónica continuava a tocar. Aí Ataualpa disse: “Quer dizer que vocês estão achando ruim, não é? Então vocês vão ver como é que autoridade age.” Sacou o revólver e gritou para o tocador de harmónica: ”Tire esse fole da frente, que lá vai bala!” O homem mal teve tempo de deixar a harmónica no chão. Ataualpa deu quatro tiros nela, e não adiantava mais ninguém quer tocar, porque de dentro dela só ia sai vento. Segundo me disseram, só ficou na sala fumaça da pólvora. Saiu gente correndo até pelas janelas.

- De um homem desses é que estamos precisando – tornou a dizer o chefe. – Quero um homem assim em Piranhas. Um homem que saiba manter a ordem.

Gostou? Quer ler mais sobre esta fantástica história? Cheio de surpresas e novidades? Comente aí … até podemos emprestar o livro. Vamos ver!

In “Os Pequenos Afluentes” – Contos de Herberto Sales. Edição LBL, coleção livros do Brasil, nº 91. Tem 215 páginas, fáceis de ler. Se começar vai querer terminar. Tente para ver.

Por Moacy A. Pina / Olhar 2.1, é o que precisas!

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